20020909

O texto abaixo não é um post no sentido "meu querido diário" do termo, é mais uma tentativa de resenha ou algo que o valha. Isto posto (nossa, falei bonito heim), ei-lo (nossa, falei bonito de novo!):



Meia-noite de uma quinta-feira fria em São Paulo, estou no hotel descansando depois de um dia de trabalho. Estou deitado na cama assistindo TV quando vejo que vai começar um programa na MTV contando "A História do Techno".

"Interessante", eu penso, e começo a assistir. Vejo o primeiro bloco. Quando entram os comerciais, passo a "zapear" os canais paulistas. De repente passo pela Rede Cultura, e ouço um som muito bonito. Não consegui mais trocar de canal....

Era um rapaz com seus 21 anos tocando um violão de 7 cordas de uma maneira que eu nunca tinha visto antes. Olho com mais atenção e consigo ver o rosto dele: é o Yamandú Costa.

Quem???

Yamandú Costa, o violonista que eu já tinha lido bastante a respeito, mas nunca tinha tido a oportunidade de ouvir. Talvez a maioria dos meus sete leitores (se não todos) nunca deve ter ouvido falar dele. Mas de tanto ter visto reportagens saindo nas revistas e jornais, eu já conhecia seu rosto, mas não sua música.

Quanto tempo perdido! Ouvir (e ver) este gaúcho tocar é uma experiência única. De mudar a vida da gente. Mudou a minha no sentido que eu percebi como toco mal.

O programa era com a apresentação que ele fez no Free Jazz de 2001. Tocando praticamente todo o tempo de olhos fechados, debruçado sobre o violão, um sorriso quase invisível nos lábios, lenço no pescoço e bombachas, quase se pode ver a música tomando forma e fluindo pelo seu corpo, saindo de seus dedos gordos para se transformar no som que emana de seu violão de sete cordas e ponte muito alta. Ele toca com muita velocidade, muita força, mas também em certos momentos (e nos momentos certos) com muita delicadeza. Notas em profusão, às vezes são trocadas pelas cordas abafadas com a mão esquerda e batidas com força pela mão direita, transformando o violão em um instrumento puramente de percussão. Até o microfone apontado para o violão se transforma em instrumento, como alternativa ao violão-tambor. Nas passagens mais "fortes" de suas músicas, Yamandú mexe, se contorce todo, fica de pé, senta, levanta as pernas e as balança no ar, como um menestrel calado, falando através do instrumento e de seus gestos. O violão é parte dele, e ele é parte da música.

Tem uma técnica incrível, clássica, mas extremamente pessoal. Por vezes parece ter mais alguém tocando com ele, mas ele é o único presente no palco. Improvisa o tempo todo, abre um sorriso mais visível, esbugalha os olhos, explora todos os limites do instrumento e da música escolhida. Termina seus números de forma brusca, sem deixar a última nota soar, assustando o ouvinte com o fim abrupto e simplesmente esperando os aplausos, que não tardam a brotar da platéia. Esfrega o rosto para limpar o suor e passa as mãos pelos cabelos desgrenhados, olha para o público e começa novamente. Vai do choro ao jazz, do samba ao tango, com muita facilidade e muita personalidade.

É... Acabou o programa. Eu quero mais. Vou dormir, ainda ouvindo as últimas notas daquela música inacreditável...



Tá, agora chega de pretensão, Bruno!

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