20011014

Eu vi deus!


Ele estava de jeans e camisa branca, usava óculos e empunhava uma guitarra multicolorida.

Por 2 horas eu vi deus tocando e cantando o blues na Praça da Apoteose. Sim, o show do Eric Clapton (não preciso dizer que is god, preciso?) foi algo divino.

Depois da meia-hora de show do Frejat pra esquentar um pouco o pessoal, Clapton subiu ao palco, pegou seu violão e começou a tocar "Reptile", a bossa-nova-de-gringo que dá nome ao seu último disco. O tecladista da banda aproveitou a deixa pra já conquistar o público: transformou seu solo nessa música num medley de citações de bossa-nova (de verdade, como "Desafinado" por exemplo), para delírio do público. Parafraseando um anônimo que estava do meu lado no show: "Esse neguinho do teclado toca pra cacete!" Realmente, não só o "nenguinho do teclado", como toda a banda toca pra cacete. O baterista, por sinal, deu um show à parte!

Seguiram-se mais alguns números acústicos, até que eles se levantam, os roadies levam os banquinhos e os violões e as guitarras começam a cantar. A metade "elétrica" do show começou com "My Father's Eyes", do Pilgrim, disco em que ele misturava um pouco o seu blues com o R&B atual americano, o que não agradou muito ao público nem à crítica. Mas a música é legalzinha, e foi uma boa transição entre as duas partes do show. Não vou tentar ficar lembrando aqui todo o repertório do show, mesmo porque eu recebi um cartão postal lá com o set list, que ficou com a Fernanda, mas depois que eu pegar com ela eu escaneio e ponho aqui.

Seguiram-se mais alguns blues até chegar na seqüência matadora do show: "Badge", "Hoochie Coochie Man", "Have You Ever Loved A Woman", "Wonderful Tonight", "Cocaine", "Layla". Não sei se a ordem está correta, ou se teve mais alguma entre essas, mas o meu estado e do resto do público era de êxtase, de transe causado por aquelas notas firmes, confiantes, e lindas. "Wonderful Tonight" me arrepiou, sendo uma das músicas mais bonitas que ele já compôs, na minha opinião. E "Layla" foi maravilhoso, com direito à sua segunda parte instrumental, onde a guitarra e o piano se mesclam de tal maneira que parecem ser um só instrumento.

O bis... bom, o bis foi um show à parte. Quando voltaram ao palco, um dos tecladistas e o baixista estavam usando camisas da seleção brasileira (coitados, não sabem como ela anda...), e assim que estão todos a postos, Clapton começa a tocar o riff de "Sunshine Of Your Love", e o público vai à loucura. Assim como o "tecladista canarinho", que ficou pulando durante toda a música, empolgadíssimo. Depois de vários solos nessa música, voltam os banquinhos e os violões, a banda é apresentada (e muito aplaudida pelo público), e começam a tocar a última música do set list, que à primeira vista parece um anti-clímax: "Somewhere Over The Rainbow", do filme "O Mágico De Oz". Se não tivesse sido divulgado o set list antes, seria irreconhecível até que se começasse a cantar. Mas "Somewhere Over The Rainbow", versão blues, com a Praça da Apoteose em peso cantando junto, foi uma das coisas mais emocionantes da noite, e foi a chave de ouro pra fechar o show divino.

Terminado o show, começamos a deixar o Olimpo (na verdade, a Praça da Apoteose mesmo), pra começar a voltar pra casa. Enquanto caminhávamos pra saída, começou a tocar "Always Look On The Bright Side Of Life", do filme "A Vida De Brian", do Monty Python. Estou começando a desconfiar que isso é exigência da Embaixada Inglesa ou algo parecido, obrigando que toquem essa música depois de shows de artistas britânicos no Rio de Janeiro, já que no Rock In Rio, depois do show do Iron Maiden, também tocaram essa música. Então saímos eu, Fernanda, Pedro, Tati, Melão e respectiva (desculpe, não lembro o nome) cantando, assoviando e dançando, no meio da multidão: "always look on the bright side of life / always look on the light side of life"...

Saímos da Apoteose, ainda em estado de graça pelo show, e fomos pegar o ônibus pra voltar pra Copacabana. Chegando em Copa, pit-stop no Habib's pro lanchinho da noite, sustos com os relógios já acertados pro horário de verão, e volta pra casa. Agora vou me deitar pra dormir. Amanhã tem o primeiro ensaio em estúdio com a banda do tio Nix, mais blues pro meu fim-de-semana/feriadão... E eu não reclamo. Aumenta que isso aí é blues do bom!

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